à toa pelo mundo
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fazenda no norte do norte do norte (parte 1)
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fazenda no norte do norte do norte (parte 1)

uma onda de calor entra pela janela e meu pensamento flutua pra outro verão | À TOA PELO MUNDO_capítulo 27
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chegou a primeira parte do meu presente de fim de ano pra você: um capítulo inédito fresquinho deste romance multiplataformas texto-imagem-som virtual y postal.

uma onda de calor entra pela janela do meu apartamento no Rio de Janeiro e meu pensamento flutua pra outro verão. frio, úmido, nublado, dos dias infinitos emendados uns nos outros…

“Olá, somos Marie Louise e Kurt, um casal de sessenta anos. Vivemos em uma ilha remota perto do Círculo Polar Ártico, um estilo de vida simples em um ambiente natural magnífico. 

Mantemos uma fazenda orgânica pequena e diversificada, com vacas leiteiras, campos e horta. Vivemos com um cachorro e um gato. Precisamos de ajuda na fazenda e na casa de maio a outubro, podemos acomodar até quatro voluntários de uma vez em dois quartos privados de nossa casa. 

Nós contamos com a força de trabalho de um cavalo, fazemos manteiga, queijo, pão, conservas, pescamos ocasionalmente. Todas as refeições são feitas em conjunto, geralmente ovolactovegetarianas. 

Não existe vilarejo na ilha, não há lojas, pub ou restaurante. Há água encanada e eletricidade na casa, mas não temos carro, máquina de lavar, barco a motor, tv nem computador. 

Há uma bicicleta que voluntários podem usar. 

Não temos wifi.”

salvei esse anúncio entre os outros que me interessaram: permacultura e aquacultura em um fjord; criação de ovelhas no ponto mais a norte do programa; produção de morangos e sorvetes artesanais à beira mar (é que eu sou touro com ascendente em touro).

sonho em conhecer a Noruega desde criança. primeiro me identifiquei com os deuses vikings, até aprendi o alfabeto rúnico, li todos os livros do Jostein Gaarder (O Dia do Curinga é o melhor!) e cheguei a fazer aulas de norueguês com uma estudante de intercâmbio que foi parar em BH. apesar de ser um país super caro, eu precisava ver o que tinha pra mim ali. era uma prioridade nesta volta ao mundo, agora quase terminando.

decidi ser voluntária pelo WWOOF, site que conecta fazendas orgânicas a trabalhadores pelo mundo todo. paguei os 20 euros de inscrição no WWOOF-Norway e tive acesso à base de dados com telefones e emails dos donos das fazendas.

preferi ligar a mandar email porque já era julho, eu estava em Oslo e queria começar a descansar da correria de viagens trabalhar assim que possível. a fazenda de sorvetes já tinha selecionado os voluntários do verão inteiro.

eram duas da tarde, hora da siesta dos fazendeiros. Marie Louise me atendeu com a voz grave e cantante:

“hallo” e continuou em inglês quando soube quem eu era. “estamos precisando de ajuda no pasto e nos campos de batatas este verão. quando você gostaria de começar?”

talvez eu devesse ter feito mais perguntas. mas eu estava muito empolgada com a ideia de ir parar numa ilha acima do Círculo Polar Ártico. fui com fé.

“daqui duas semanas. eu tava pensando em ficar quinze dias, tudo bem?”

“normalmente seria melhor se fosse mais tempo, querida, mas teremos outras voluntárias em agosto, então tudo bem. você tem alguma experiência com fazendas?”

”meus avós de pai e de mãe vêm da roça, mas eu cresci na cidade. eu sei tirar leite de vaca. quer dizer, mais ou menos...”

“não tem problema, aqui a gente te ensina tudo.”

“onde vocês estão exatamente?”

“em Hestmona, uma ilha bem pequena perto de Mo i Rana. chegando de trem, você vai precisar ir até a estação de Mo i Rana, depois pegar um ônibus até Tonnes e um ferry-boat até nossa ilha.” 

“espera… mui quê? vou anotar aqui.”

“Mo i Rana. M-o i r-a-n-a. depois um ônibus até Tonnes, T-o-n-n-e-s. você tem que chegar no trem das 2h da tarde, o ônibus sai às 2h30. mas não se preocupe com atrasos, ele espera os passageiros do trem chegarem para partir. aí você desce no porto de Stokkwågen, S-t-o-k-k-w-å-g-e-n.”

“esse ó é o á com bolinha em cima? å?”

“isso mesmo, querida. nesse porto você pega o ferry pra cá. ele também espera os passageiros do ônibus.”

“ok… e eu preciso levar alguma coisa em especial?”

“nós temos galochas e capa de chuva que você pode usar. acho que seria bom trazer calças impermeáveis, porque aqui chove bastante. de resto, não precisa se preocupar com nada.”

“eu tenho calça e casaco impermeável, sem problemas. obrigada e até breve!”

… continua …


este é um livro em processo de escrita, projeto ambicioso que eu achei que ia durar 1 ano, mas em janeiro completa 2 anos de processo, que no auge teve 61 apoiadores pelo catarse 🫶. nesse período, os primeiros 6 meses foram de escrita intensa. depois perdi o ritmo, bloqueio, desbloqueio, bloqueio de novo, enfim, fluxos criativos.

estamos aqui, prossigo, repactuo
~ à toa pelo mundo ~ continua em 2024
e até quando esse relato de viagem dar a volta no mundo

depois do Mar Morto no final de maio/2012 e do aeroporto atemporal no poema do último capítulo, neste eu salto para a Noruega no final de julho/2012.

retomo não de onde “tenho que” retomar e sim da história que quis contar neste momento. na dúvida de como numerar os episódios, continuei de onde parei. depois a edição toma conta desses detalhes, arranjos, rearranjos, há muito trabalho pela frente. avanço palavra por palavra.

beijinhos, felizes festas e até semana que vem (o envio da parte 2 vem vindo!),

Lívia

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em 2012, fiz uma viagem de volta ao mundo tão incrível que pareceu mentira (mas foi tudo verdade). acompanhe a escrita-leitura dessas aventuras: uma viagem literária pelo espaço e pelo tempo. hashtags #literatura #viagens #mundo #memória #aventura #relatodeviagem #mochileira #lowbudget