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generosidade no deserto
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generosidade no deserto

a maioria das pessoas do mundo são boas (mas tem aquele 1% de gente ruim) | À TOA PELO MUNDO_capítulo 21
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peço licença pra começar esse capítulo deixando o ano de 2022 atropelar o de 2012: as eleições no domingo têm sido o tema inescapável de outubro. e como não, considerando que, mesmo depois de tantos crimes cometidos (e engavetados) pelo governo atual, ainda tem uma boa parcela de brasileiros achando que continuar com essa devassa dos nossos recursos naturais e humanos é a melhor opção pro Brasil.

eu, como artista, mulher, bissexual, defensora dos direitos humanos e da biodiversidade, sou alvo direto desse presidente. e tenho medo de ter que enfrentar mais 4 anos de destruição de direitos, mentiras e ameaças à nossa vida.

criei pouco nas últimas semanas e me senti muito mal por isso. aí ontem a Clau Fusco me acalmou: com que cara eu vou vir aqui e falar pra você, pessoa brasileira em 2022, produzir arte? pois. tá difícil.

mas nem tudo está perdido, Lula ficou em primeiro no 1º turno e as pesquisas indicam que ele ainda está na frente nas intenções de voto. a aliança pela democracia conseguiu unir PT e PSDB (e muitos outros partidos), coisa que há 6 anos seria impensável. temos a esperança de sair do fundo desse poço fedorento que nos enfiaram e é essa esperança que me acalma antes de dormir.

bom, como a proposta deste canal aqui é partilhar o processo de escrita do meu livro, compartilho hoje o que eu consegui escrever. é mais prosa que poesia, não tá tão acabado quanto capítulos anteriores, mas é parte do processo. e, olhando em retrospecto, até que consegui escrever muitas palavras.

vem viajar comigo pela Jordânia de 2012. e vote 13 no domingo.


28 de maio, transporte público (uma van) de Al-Karak para Petra, Jordânia

“você quer ficar na minha casa?” perguntou a mulher de véu e roupas pretas que deixavam à mostra apenas seu rosto e mãos. Besame viaja ao meu lado na van. tem olhos verdes, mão pequenas, 32 anos, mas o rosto curtido de sol e a vida dura fazem com que pareça mais velha. 5 filhos e outro a caminho. tem uma barraca de souvenirs em Petra e fala inglês bem o suficiente para conversarmos para além do what is your name where are you from where are you going. ela teve um sangramento e foi ao obstetra numa cidade maior, está voltando pra casa com a recomendação de repouso absoluto por pelo menos 3 meses.

a paisagem seca, montanhas rochosas e arbustos retorcidos, passa lentamente por nós. no rádio, alguém entoa o Alcorão acompanhado por um tambor. monótono, mas bonito.

“se não for muito incômodo…”

“pelo contrário, a gente adora receber turistas em casa.”

“ah, então eu aceito.”

eu não sabia muito bem o que estava aceitando. achei que iria ficar numa casa (ou apartamento) em Wadi Musa, a cidade ao lado das ruínas da antiga cidade dos Nabateus. pensei: se eu não me sentir segura, eu agradeço, saio e faço check-in num hotel. mas.

chegando em Wadi Musa, primeiro fui na bilheteria de Petra e comprei um passe de dois dias + o show Petra By Night pra hoje à noite. fizemos uma compra de frutas e legumes (Besame não deixou que eu pagasse) enquanto o primo dela vinha nos buscar. ele colocou meu mochilão na carroceria de uma caminhonete grande, me acomodei ao lado das melancias e, para minha surpresa, saímos da cidade por uma estrada esburacada.

a casa da Besame fica no assentamento beduíno Uum Sayhoun. se eu soubesse um pouco mais sobre a Jordânia e suas populações, poderia reconhecer que ela é beduína pelas roupas pretas.

o filho de seis anos, Ali, veio correndo me receber. “come in my lady”, repetiu várias vezes enquanto tentava carregar meu mochilão. 4 dos 5 filhos e Mariam, cunhada da Besame, moram na casa. e o marido, Mohammed, que está trabalhando em Petra. eles têm dois burrinhos e um camelo para levar turistas pelas ruínas. a filha mais velha dela, 16 anos, é de outro casamento e mora com o pai.

a casa, que eles chamam de caverna, tem um salão grande, dois quartos pequenos ocupados por armários grandes, um banheiro e uma cozinha. o único móvel do salão é uma cômoda e sobre ela algumas pedras de diversas cores e fotos do Bob Marley.

a filha de 11 anos, Mariane, virou minha melhor amiga instantaneamente. Besame trocou o lenço e o robe preto e por camiseta e calça coloridas, os cabelos castanhos fartos presos num rabo de cavalo. na vida privada pode. por hora, me sinto segura.

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em 2012, fiz uma viagem de volta ao mundo tão incrível que pareceu mentira (mas foi tudo verdade). acompanhe a escrita-leitura dessas aventuras: uma viagem literária pelo espaço e pelo tempo. hashtags #literatura #viagens #mundo #memória #aventura #relatodeviagem #mochileira #lowbudget